Em tom de campanha, ele chamou petistas de canalhas e disse que país não tem futuro com a volta deles ao poder
Porto Velho, RO - Sob pressão das pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro discursou em tom de campanha nesta quarta-feira em Jucurutu e Jardim de Piranhas, municípios do Rio Grande do Norte. Ele distribuiu ataques ao PT, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao Poder Judiciário, chamando os petistas, por exemplo, de canalhas e dizendo que país não tem futuro com a volta deles ao poder. Disse também que "os ladrões querem voltar" na eleição de outubro.
Bolsonaro está em viagem pelo Nordeste — região onde é mais fraco e onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas, é mais forte — para visitar obras da transposição do Rio São Francisco. Ele bateu principalmente na tecla do combate à corrupção, afirmando que irregularidades nas gestões petistas causaram desvios trilionários.
— Tem gente que tem saudade desses canalhas! Não é só o povo nordestino que sofre, todo mundo sofre no Brasil. Em consequência desses canalhas. Os números estão aí. Não estou alfinetando nem criticando ninguém. Estou mostrando — disse Bolsonaro em Jucurutu, onde visitou a barragem de Oiticica, que faz parte da transposição.
Bolsonaro tem sido aconselhado pelo núcleo mais próximo à campanha de reeleição, que inclui o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) a concentrar ataques no PT, deixando de lado, ao menor por ora, outros adversários. A estratégia é baseada em pesquisas qualitativas, e o objetivo é passar a imagem de que é o único capaz de derrotar Lula em um eventual segundo turno — dentro deste mesmo panorama, a artilharia busca mostrar que as candidaturas de terceira via não são viáveis eleitoralmente.
Após citar um contrato anterior ao seu governo, sugerindo que haveria irregularidade, Bolsonaro falou alguns palavrões e depois fez uma referência a Fernando Henrique.
— Desculpa o palavrão aqui. Este era o Brasil. E alguns falam 'o presidente é mal educado, fala palavrão'. Mas eu não roubo! Eu devo lealdade a vocês. Ah 'o presidente é grosso, falou palavrão'. Quantos porcarias me antecederam que falavam bonito? Até aquele que falava [assim] — disse Bolsonaro, imitando depois o modo de falar de Fernando Henrique, e acrescentando em seguida:
— Lembram? Era roubalheira o tempo todo. O que nós queremos para o Brasil, a não ser fazer a coisa certa? Querem botar um fala mansa lá? Botem. Quem vai pagar a conta? Vocês.
Sem citar nome, ele fez uma referência aos R$ 51 milhões descobertos no apartamento de Geddel Vieira Lima (MDB), que foi ministro nos governos Lula e Michel Temer (MDB).
— Aqueles 50 milhões no apartamento de um companheiro. De onde veio? Foi a fada madrinha que botou lá? Ele foi ao final do arco-íris e achou caixa de dinheiro e levou para o apartamento? Completamos três anos sem corrupção. Vocês lembram naquele período vermelho do Brasil, as televisões mostrando dutos com dinheiro saindo. Quem não se lembra? Vocês querem a volta disso? Costumo dizer: se um dai aparecer corrupção em algum ministério e banco oficial nosso, vamos apurar, colaborar com a apuração. Pode acontecer. Ninguém está livre disso. Até em casa às vezes alguém da família faz algo errado, porque aqui não pode acontecer, a gente luta para não acontecer — afirmou Bolsonaro.
Segundo compromisso do dia também tem tom de campanha
O tom de campanha continuou no segundo compromisso de Bolsonaro do dia, em Jardim de Piranhas. Ele repetiu trechos do discurso anterior, em Jucurutu, e também afirmou:
— Os ladrões de ontem querem voltar por ocasião das eleições de outubro que se aproximam. E a gente mostra o que eles fizeram. Não estamos criticando nenhum governo anterior. Estamos mostrando números.
Em Jardim de Piranhas, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que é potiguar, atacou Lula e Fátima Bezerra, e disse que o projeto dele e do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que também é do Rio Grande do Norte, é reeleger Bolsonaro. Primeiramente, Faria se dirigiu ao presidente:
— A sua imprensa é livre. O outro (Lula) já disse que, se ganhar, vai regular. Só não vai regular porque não vai ganhar.
Depois, Faria, que já apoiou administrações petistas, disse a Marinho:
— Nós temos um projeto. O projeto de reeleger o presidente Bolsonaro. E nós somos gratos. E quem achou que ia ter briga entre nós dois (Fábio Faria e Rogério Marinho) vai quebrar a cara. Nossa missão é tirar essa governadora mentirosa. O projeto maior é livrar o Brasil da corrupção, e só um homem que fez isso, é Jair Bolsonaro.
Rogério Marinho também atacou Lula e elogiou Bolsonaro. O ex-senador Magno Malta, que nasceu na Bahia, mas fez carreira política no Espírito Santo, também discursou e defendeu a reeleição de Bolsonaro.
Ataques à esquerda
Em Jucurutu, o presidente também fez um ataque ao PSOL, ao ligar o partido a Adélio Bispo de Oliveira, o autor da facada durante um ato de campanha em 2018. Adélio é um ex-filiado do PSOL. Citou também a invasão de uma igreja em Curitiba, liderada pelo vereador do PT Renato Freitas, num protesto contra a morte do imigrante congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, espancado no Rio de Janeiro até a morte aos 24 anos.
— Esses caras de esquerda não têm qualquer respeito com vocês. Não respeitam a religião de ninguém. Vivem pelo poder. Em geral são incompetentes. Pessoas que não estudaram. Estão aí debruçados a atender o partido. Qual o futuro nosso se esse pessoal volta ao poder um dia? Nenhum — disse o presidente.
Em outra referência a Lula e ao PT, Bolsonaro disse que não apesentou nem vai apresentar projetos com o objetivo de controlar a mídia. Também criticou os governadores, voltando a atribuir a alta no preço dos combustíveis à cobrança do ICMS, que é um imposto estadual, e atacando mais uma vez as políticas de combate à pandemia que passem por medidas restritivas às atividades comerciais e à circulação de pessoas. O governo do Rio Grande do Norte também foi mencionado porque, segundo Bolsonaro, estaria atrapalhando a obra da barragem. O estado tem como governadora Fátima Bezerra, do PT.
Sem citar nomes, sobrou também para o Supremo Tribunal Federal (STF) e para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro fez referência à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que mandou prender o deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) após ele fazer ataques e ameaças à Corte. E mencionou a decisão do ex-ministro do TSE Luis Felipe Salomão, determinando que as plataformas digitais suspendessem repasses financeiros a páginas na internet que propagam desinformação.
— Não tem do que nos acusar, a não ser "grosso", "fala palavrão", "insensível", "não é democrata". Eu não prendi nenhum deputado. Eu não desmonetizei página de ninguém. Eu não ameaço ninguém, mesmo os que me ofendem, me atacam. E se tiver algo contra alguém, será no campo da injúria, calúnia, e difamação, e nunca prisão. Eu quero eleições... Quero não, nós teremos eleições limpas no corrente ano. Nós queremos e buscamos transparência. Jamais eu vou impor qualquer vontade minha sobre vocês. Muito pelo contrário: é vocês que decidem o futuro do nosso Brasil — disse Bolsonaro.
Fonte: O Globo
0 Comentários