O nome dele continua ecoando dentro e fora de Rondônia. Ari foi citado na COP26, na Escócia; lembrado durante os festivais de cinema de Sundance e Copenhagen pelo documentário "O Território" e diariamente a falta do guardião é sentida na sua comunidade.
Porto Velho, RO - Há exatos dois anos Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi encontrado morto em Tarilândia, distrito de Jaru (RO). Em 2022 sua esposa e filhos continuam em luto sem saber qual a motivação do assassinato.
Ari trabalhava registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro da aldeia, pois fazia parte do grupo de monitoramento do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Ele foi morto durante a noite de 17 de abril de 2020 e o corpo encontrado na manhã seguinte, com sinais de lesão contundente na região do pescoço, que ocasionou uma hemorragia aguda.
O nome dele continua a ecoar dentro e fora de Rondônia. Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi lembrado na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima (COP26) na Escócia, durante discurso da ativista indígena Txai Suruí, em novembro do ano passado.
"Enquanto vocês fecham os olhos para a realidade, o defensor da terra Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo desde que eu era criança, foi assassinado por defender a floresta. Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática e nós precisamos estar no centro das decisões tomadas aqui", disse Txai durante discurso.
Txai foi a única brasileira a discursar na abertura oficial da conferência, que aconteceu em Glasgow, cidade da Escócia. Lideranças de todo o mundo escutaram seu discurso.
'O Território'
Ari também é parte importante na construção do documentário "O Território". O filme foi produzido com ajuda de indígenas Uru-Eu-Wau-Wau e mostra a História desse povo pela defesa de suas terras.
O documentário venceu duas categorias no Festival Sundance de Cinema, em janeiro deste ano, são elas: Prêmio do Público e Prêmio Especial do Júri para Arte Documental.
'O Território', filme sobre luta do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau — Foto: Reprodução/O Território
Em março de 2022, foi exibido no Copenhagen International Documentary Film Festival (CPH.Dox). Durante o festival, o filme ganhou uma menção honrosa de apreciação do júri pela qualidade do material.
O documentário, primordialmente filmado em Rondônia, tem participação de cineastas locais. Quem ajuda a traçar a linha narrativa é Bitaté, um jovem Uru-Eu-Wau-Wau e a indigenista Ivaneide Bandeira, conhecida como Neidinha. A partir deles, "O Território" se apropria da arte e da linguagem audiovisual para denunciar desmatamentos, invasões de terras, queimadas e perseguições.
"Para o meu povo assistir esse documentário hoje é muito forte porque ele [Ari] esteve presente no início. Lembrar é um furo no coração da gente", diz Bitaté.
"A gente não consegue ficar sossegado sem Justiça [...] Ele ajudava tanto no monitoramento, quanto na área cultural, quanto na educação, porque era professor. Pra gente fazer dois anos que não temos ele dentro do nosso território é muito triste. É muito triste não ter uma resposta para dar para o nosso povo, uma resposta para dar para a família de Ari, que hoje ainda está de luto", comenta Bitaté.
Outdoors foram espalhados em Rondônia com a pergunta: "Quem matou Ari Uru-Eu-Wau-Wau?" — Foto: Kanindé/Reprodução/Redes Sociais
Ari também foi lembrado no relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgado em 2021, em Rondônia. O documento aponta que há anos a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau sofre com invasões, desmatamento, grilagem e queimadas.
As ameaças também são constantes, deixando lideranças indígenas e o povo sem liberdade e segurança mesmo no seu próprio território, segundo o Cimi.
"Em decorrência da omissão do Estado em proteger os territórios indígenas, fazendo recair o peso da defesa da terra sobre os próprios povos, a liderança foi cruelmente assassinada. O jovem professor e agente ambiental, Ari foi encontrado morto com sinais de espancamento", consta no relatório.
Fonte: G1/RO
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