Felippe Hermes na Crusoé: O fim do dólar

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Felippe Hermes na Crusoé: O fim do dólar

Alarmismos sobre o fim da moeda americana têm tomado conta da imprensa, mas ignoram conceitos relevantes, como a função de uma moeda. Reprodução

Porto Velho, RO - A lenda de El Dorado, ou “o homem dourado“, conta a história de um cacique muísca (um povoado indigena na Colômbia), que possuía o hábito de se banhar em ouro em pó, tamanha a abundância do metal precioso na região.

Este relato foi responsável pela cobiça com a qual conquistadores espanhóis como Francisco Pizarro fincaram suas bandeiras na região dos Andes. Apesar da lenda, logo se descobriria que o ouro não era exatamente o metal mais valioso da região. De fato, havia muito pouco dele.

Temos por aqui o hábito de engrandecer o valor do ouro na história, em parte graças à nossa bronca com portugueses que exploravam a região de Minas Gerais, mas o fato é que, ao longo da maior parte da história, foi a prata quem teve papel de destaque.

Pizarro e os espanhóis não acharam ouro, mas encontraram prata em abundância. Situada a 4 mil metros de altura, a cidade boliviana de Potosí tornou-se conhecida como a primeira cidade global no mundo. Das suas “montanhas de prata“, e graças à tecnologia espanhola para produção do metal (que acrescentou a técnica de separação pelo mercúrio ao trabalho indigena), a região proveu o mundo de dinheiro por séculos.

A prata tornou-se indissociável da riqueza espanhola. Foi responsável por nomear nossa vizinha Argentina (terra da Prata em espanhol), por onde escoava o metal, além do Real de 8, a primeira moeda mundialmente utilizada.

O Real de 8, por sua vez, possuía outro apelido. Seguindo a moeda, também de prata, mais usada no sacro império romano germânico, originária das minas de Joachimsthal na República Checa e que ganharia o nome de Thaler, Daler, ou Dólar, a moeda espanhola ficaria conhecida como “dollar espanhol“.

Foi nessa moeda que os caipiras responsáveis por derrotar o império britânico e criar os Estados Unidos da América se inspiraram para criar o seu “dólar“.

Foi também nos EUA, em 1873, que a prata morreu como reserva de valor.

O “ato de cunhagem de 1873” proibia expressamente os detentores de prata de cunhar os chamados “dólar prata“. Por default, o ato criava assim um “padrão ouro“.

A ideia de um padrão ouro, que significa que os dólares podem ser convertidos em ouro, estando portanto sujeitos à limitação do estoque do metal em um país, era um pouco mais antiga.

Sir Isaac Newton, quando de sua atuação como responsável pela “Casa da Moeda” no Reino Unido, já havia implementado algo similar, mas em um período onde a libra ainda não era uma moeda global.

A imposição americana foi seguida pelos europeus, com o ouro enfim se tornando sinônimo de dinheiro…

O mundo viveu boa parte da sua história atrelando o dinheiro, ou os meios de troca, a algo físico limitado. Primeiro grãos, depois sal, gado, prata e ouro. Desde 1971, por meio do dólar, passamos a contar com o chamado dinheiro “fiduciário”, uma palavra que deriva do latim “fiducia”, ou “confiança”.

O dólar não possui qualquer respaldo físico, o que por sua vez significa dizer que os EUA podem simplesmente criar dinheiro e trocá-lo por bens materiais de outros países. Trata-se de um privilégio que nenhuma outra nação na história jamais teve.

E o abuso constante deste privilégio é o que leva a pergunta: o dólar irá continuar como moeda global?

A resposta simples é:…

Fonte: O Antagonista

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